29 dezembro 2005

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS

Foi em algum filme do Wim Wenders que eu escutei que uma história se conta através do espaço entre os personagens.
Cinema, aspirinas e urubus está ganhando diversos prêmios e é o melhor filme dessa geração pernambucana exatamente porque seu diretor Marcelo Gomes sabe, como poucos, como usar esse espaço entre personalidades tão diferentes pra contar uma história sensível e complexa.
Eu disse complexa, mas poderia ter dito simples, porque esse é um daqueles casos contraditórios. O enredo é muito simples, poderia ser resumido em uma linha e estaria englobando toda a ação que ocorre em quase duas horas de projeção, mas estaria longe de dizer o que realmente acontece.
A trama, o conflito, a tensão são tratadas de maneira sutil e sugerida. Apesar das ações serem visíveis, as consequências de cada ato são internas e pessoais, a história surge na maneira como essas mudanças moldam o espaço entre os dois protagonistas.
Os primeiros minutos de andanças de Johann pelo agreste nordestino dos anos 40 são mero prólogo pra história que vai se desenvolver a partir do encontro deste alemão com o retirante Ranulpho.

27 dezembro 2005

O Importuno - Almeida Júnior























Está lá. Logo na entrada da exposição de arte erótica do CCBB de São Paulo.
Além da tela impressionar pela dimensão, a técnica de Almeida Júnior te faz entrar no cenário e viajar no tempo.
Você fica ali, embasbacado, olhando a modelo que se veste ( ou se despe), a tela pela metade no cavalete e o artista que vai ver algo ou alguém atrás da cortina.
"N" histórias te passam pela cabeça e você fica ali, bobo, olhando a tela.

26 dezembro 2005

Laboratório de arquitetura

Já é muito bem sabido que o programa residencial é aquele onde os arquitetos mais exploram soluções novas e possibilidades experimentais que seriam prontamente barradas em projetos de grande envergadura.
Mesmo assim, é muito raro ver uma casa que nos faz repletir sobre o papel da arquitetura e da habitação.
Há algumas semanas, tomei contato, quase que simultaneamente, com dois projetos residencias que não me saem da cabeça, e que tem me rendido muita reflexão.
O primeiro projeto , uma casa no norte de Portugal, construida por Álvaro Leite Siza (filho de um dos maiores expoentes da Escola do Porto), conheci através da palestra apresentada pelo Grupo ARX durante o evento Des -continuidade. Essa curiosa casa lida com a questão dos desníveis da maneira mais simples e lógica: através de escadas. Enquanto os projetistas quebram a cabeça pra negar ou suavizar diferenças de nível, Leite Siza faz da escada elemento central de seu projeto de maneira tão lúdica que desde os Carceri de Piranesi ninguém via nada assim.
O segundo projeto, uma casa no sul do Brasil, elaborada pelo escritório Procter: Rihl (publicada no número 139 da revista AU), também trata com naturalidade questões que a maior parte das pessoas tenta disfarçar: terrenos de dimensões exiguas e falta de segurança. Tendo que ocupar um lote estreito e comprido sem se descuidar dos aspectos de segurança inerentes à vida nos grandes centros urbanos, Fernando Rihl cria um bloco compacto em que usa as grades de uma maneira tão harmônica que elas somem como elemento de segurança e incorporam-se ao conjunto dando dimanismo ao bloco. Enquanto a casa de Siza abre-se para a paisagem, o projeto de Rihl fecha-se e tira partido de uma solução belíssima de pátio interno.
Clique nos links abaixo para maiores informações sobre os projetos.

Casa Tóló -Álvaro Leite Siza








Casa Slice - Procter : Rihl

25 dezembro 2005

Cadernos de Viagem


Sempre me agradou muito a idéia de um diário visual de viagem, e eu mesmo já mantive registros visuais de diversas viagens de fiz, só que por serem tão fragmentados nunca formaram diários.
Acho que o primeiro caderno de viagem genuíno que vi foi algum dos muitos que o Loustal fez. Ele foi tão bem sucedido nessa tarefa que fez vários, e depois de um tempo passou até a receber encomendas pra isso.
Felizmente, ele não foi o único. O francês Jano também fez disso uma linha de trabalho, explorando o norte da África e registrando tudo o que via.
Depois, veio o galego Miguelanxo Prado que explorou Lisboa junto com Eric Sarner. Nada melhor que um galego pra entender os portugueses.
É exatamente por esse prazer que eu desfruto sempre que pego um caderno de viagens que eu reverencio a série Cidades Ilustradas , lançada pela Casa XXI. Depois de pedir ao Jano que desenhasse o Rio, ao Prado que explorasse Belo Horizonte, e ao César Lobo que se perdesse em Curitiba, Saíram recentemente mais dois volumes: Salvador por Marcelo Quintanilha; e Belém por Jean Claude Denis. Este último, na minha opinião, o melhor até agora. Denis explora a paisagem da capital do Pará tanto em desenhos gestuais de caneta, como também em aquarelas lindíssimas que demonstram todo o seu poder se síntese.
Seus comentários, não são irônicos como os de Jano, fantasiosos como os de Prado ou turísticos como os de Lobo, são apenas comentários de um viajante, em alguns momentos críticos e outros deslumbrados.
E como se não bastasse, tudo indica que ainda vem por aí, as cidades do ouro por Marcelo Lellis e São Paulo por Luis Louro .


20 dezembro 2005

Ufa. Enfim eu consegui entrar neste blog.

Bom, eu sou a participacao especial que o Edu mencionou e eu estou escrevendo num Mac e, por isso, nao usarei acentos.

Tina, para quem nao me conhece. Muito prazer. A ideia da participacao especial veio de uma viagem que eu vou fazer para Nova Iorque e Paris em janeiro. Devo deixar uma especie de diario de bordo por aqui.

Antes de sair do pais, no entanto, fiz uma mudanca drastica: vim morar em Brasilia. Aqui estou, tentando me adaptar. Vou aproveitar entao para deixar para o Edu as novidades do meu embate com a cidade.

Ate agora, achei a cidade muito estranha. Antes, quando vinha a trabalho, achava Brasilia legal, bonita. Agora, acho uma loucura. Sem querer ser superficial - sei que deve ter alguns arquitetos lendo o blog do Edu - e reconhecendo que ainda nao li o suficiente a respeito das discussoes sobre o planejamento e a construcao de Brasilia, e uma maluquice querer projetar uma ciadade inteira, de cabo a rabo e partindo do nada. Como se uma cidade nao fosse organica pelo simples fato de que e povoada por seres humanos. Como se bastasse vc delimitar um Setor de Diversoes para que as pessoas fossem la se divertir. Ou ainda, como se bastasse delimitar ruas comerciais para que, em cada rua, houvesse uma padaria, um acougue, um cyber cafe, uma lojinha quebra galhos, um supermercado, uma livraria e um boteco. Nao tem. E feira? Tambem nao tem. E quando crescer? E quando o cemiterio lotar? Me faz lembrar o Mon oncle do Jacques Tati, com aquela casa moderna, toda projetada e industrializada e, no fim das contas, pouco pratica.

Gosto de muitos predios. Gosto do Congresso, do Itamaraty, do Planalto e muitos outros, mas a cidade como um todo nao funciona. Me ocorreu hoje, enquanto passeava pela Praca dos Tres Poderes, que e muito nossa essa ideia de que vamos resolver tudo por decreto. Decretaremos que a capital do Pais sera essa cidade, no centro geografico do Pais, toda cheia de simbolos de desenvolvimento; o aviao, a maquina, a industria... O Brasil vai deslanchar, se desenvolver todo.

Mas ai, o que acontece? Tem construcoes irregulares, ja tem engarrafamentos, porque todos tem que fazer tudo de carro, os predios novos construidos nao seguem o mesmo padrao e destoam dos originais, o verde nao e tao verde porque aqui e seco a beca etc. Enfim, me parece bastante ingenuo, apesar de eu entender que era o ar daquele tempo.

Mesmo assim, eu fico bastante intrigada com o Lucio Costa. Eu havia lido dele coisas sobre a arquitetura colonial, onde ele defendia a utilizacao das solucoes desenvolvidas aqui no Brasil, as mais adequadas ao nosso tipo de vida. A taipa de pilao, o adobe, a utilizacao das pedras embaixo das pilastras contra os cupins, os telhados bons para evidar a chuva, as varandas etc. Tudo bem na escala humana e bem perto do homem do Pais. De repente, ca estou numa cidade que nao tem nada disso. Preciso ler mais a respeito. Aguardo que vc me mande uma bibliografia, Edu.

E isso por hoje sobre Brasilia. Mais noticias depois.

17 dezembro 2005

Finalmente descobri a autora do poema que está junto do rosto da garota oriental na Estação Sumaré do metrô.

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida esta completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

14 dezembro 2005

Mutarelli e J C Fernandes
A vitória dos difíceis.

Existe um fato que une Lourenço Mutarelli e José Carlos Fernandes na minha vida. No início, odiava ambos, e hoje, estão entre os meus preferidos.
Confesso, sem vergonha alguma, que na primeira vez que vi uma história do Mutarelli meio que passei ao lado, praticamente ignorei. O traço não me atraiu e o enredo, simplesmente me pareceu bizarro. Na segunda, já fui dominado pela repulsa ao testemunhar no ápice da história um ritual satânico animado com pedofilia e mutilações.
Já com Fernandes, as primeiras páginas só me pareceram sem graça e mal desenhadas, mal memorizei o nome do autor.
Anos depois, imaginem qual não foi minha surpresa, quando conheci a SAGA DE DIOMEDES e A PIOR BANDA DO MUNDO. Pra começar, ambas são de um refinamento e uma maturidade extremamente raras nas BDs / HQs. Em segundo lugar, elas são a maior prova de que os maus desenhistas também encontram seu estilo e são capazes de um repertório gráfico de dar inveja em qualquer virtuoso do bico de pena.
Este empenho no grafismo e na busca na representação visual pessoal são comprovados em relatos de ambos que dizem respeito a mudanças gráficas que foram obrigados a fazer por dificuldade em encontrar certos produtos artísticos (papel no caso de Fernandes e bico de pena no caso de Mutarelli) que impediam a continuidade de um conceito gráfico que estava sendo trabalhado ao longo da série.
A SAGA DE DIOMEDES, presente em O Dobro de Cinco, O Rei do Ponto, A Soma de Tudo é, em primeiro lugar, uma leitura apaixonante; em segundo, uma abordagem invulgar nas histórias de detetives anti-heróis. O roteiro é de uma genialidade de dar inveja, com idas e vindas que ligam os personagens e tornam os quatro volumes um ciclo onde início e fim se confundem. O primeiro volume é com certeza o melhor de todos, mas confesso que mexeu comigo a visão que Mutarelli tinha de Lisboa nos dois últimos volumes.
A PIOR BANDA DO MUNDO é uma coletânea de histórias curtas (que já vai pelo quinto volume), onde o autor faz uma mistura balanceada de Borges, Kafka e do jeito de ser português. As referências estão por toda parte (quem é que não reconheceu a Casa da Moeda de Lisboa?) e o monocromatismo dá o clima dos personagens e do “povo suave”.
Fico curioso pra ver o que esses dois autores vão fazer a seguir.

11 dezembro 2005

DIA DO ARQUITETO

Neste 11 de dezembro, decidi fazer uma última visita à Bienal de Arquitetura ( acabava hoje), mas a exposição ( que não está grande coisa) acabou sendo substituída pela exibição de dois documentários de arquitetura no porão do edifício projetado pelo Niemeyer.
Um dos filmes era um relato magnífico da vida e obra do Lúcio Costa; o outro, um filminho meia boca produzido pra um programa de Tv sobre o Warchavchik, mas que tem grande importância já que quase não existem documentos (livros, filmes, etc) sobre este que foi o primeiro modernista brasileiro.
Independente dos méritos, ou ausência deles, em cada filme, é importante frisar que essa Bienal de Arquitetura, que piora um pouco a cada edição, tem cumprido bem pelo menos uma meta: a de resgatar a obra de arquitetos brasileiros importantíssimos e que estavam caindo no esquecimento.
As edições anteriores já relembraram Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi, Oswaldo Bratke e muitos outros. Este ano, o destaque ficou em Gil Borsói, Carlos Milan, Icaro de Castro Mello, Kneese de Melo, além do ainda atuantes Décio Tozzi e Joan Villa.
Esperemos que nos próximos anos se repita essa iniciativa com MMM Roberto, Franz Heep e muitos mais.Já entre a comitiva portuguesa, ficou-se pelos extremos: do enfoque genial nas residências de Souto Moura, a exposição espaçosa e incompreensível de Gonçalo Byrne e a ousadia de Pedro Bandeira.

07 dezembro 2005

Pra agitar um pouco e acabar com esse marasmo, em breve, teremos novos colaboradores aqui no Blog. Aguardem...


Eventos:






Enquanto isso, neste fim de semana, não percam alguns eventos bem legais que vão acontecer no Centro Cultural São Paulo. Além de uma palestra com o lendário Luiz Gê, está ocorrendo um ciclo de cinema japonês mudo com uma apresentação diária de "Benshi", o método tradicional de narração e acompanhamento musical japonês.Para saber os horários e mais informações, é só clicar nos links..

05 dezembro 2005

MAIS RABISCOS
(ANDO MEIO RETICENTE...)