22 agosto 2005

Retrospectiva Kieslowski

Comentar essa mostra que ocorre a partir de amanhã no CCBB-SP é quase obrigatório pra mim, uma vez que meu interesse por cinema despertou quando assisti o primeiro capítulo da série Decálogo quando ainda era adolescente.
Fiquei tão intrigado com esse filme que nunca mais consegui esquecê-lo, e ele se tornou um modelo ao qual inevitavelmente comparei todas as produções cinematográficas que vi daí pra frente.
Essa mostra é, não só uma oportunidade de conhecer melhor a obra de um dos cineastas mais talentosos e sensíveis da Europa, mas também uma chance única de acompanhar a série de 10 capítulos que Kieslowski realizou para a Tv Polonesa tendo como tema os dez mandamentos. Esses filmes são extremamente raros e nunca foram lançados em versão brasileira. Foram exibidos apenas em uma Mostra e pela tv Cultura, e as únicas cópias legendadas em português que eu conheço são gravações em VHS feitas a partir dessa emissão.
Além disso, a retrospectiva oferece a oportunidade para aqueles que não conhecem Kieslowski de apreciarem sua obra prima, a Trilogia das cores, e seus outros longas feitos para o cinema.
Tal qual a exibição de alguns de seus curtas que ocorreu em 2001 no Cinesesc, essa mostra é imperdível pra qualquer um que aprecie cinema de verdade.

Confira a programação

21 agosto 2005

Ultimamente, as tiras do Laerte tem estado tão boas que tem dias em que eu compro o jornal só por causa delas.









































14 agosto 2005

Cuba de Arenas
Quando vivi em Lisboa, conheci uma cubana de quem fiquei muito amigo. Era uma amizade quase inevitável, essa de dois latino-americanos vizinhos em um edifício cheio de portugueses.
Conversávamos muito sobre Brasil, sobre Cuba, sobre Fidel, sobre Lula.
Ontem revi Before Night Falls, bio-pic do escritor Reinaldo Arenas na tv. Dono de uma prosa extremamente poética, seus escritos eram comunmente chamados de textos-poesia.
Lembrei muito de minha amiga cubana e de nossas conversas, foi como se eu visse o filme pela primeira vez e como se eu nunca tivesse escutado nada de Arenas.
Mal o filme acabou, vim a Net procurar mais Arenas, matar essa saudade de Cuba que eu nunca conheci.



Reinaldo Arenas
The Parade Ends

" Paseos por las calles que revientan,
pues las cañerías ya no dan más
por entre edificios que hay que esquivar,
pues se nos vienen encima,
por entre hoscos rostros que nos escrutan y sentencian,
por entre establecimientos cerrados,
mercados cerrados,
cines cerrados,
parques cerrados,
cafeterías cerradas.
Exhibiendo a veces carteles (justificaciones) ya polvorientos,
CERRADO POR REFORMAS,
CERRADO POR REPARACIÓN
¿Qué tipo de reparación?
¿Cuándo termina dicha reparación, dicha reforma?
¿Cuándo, por lo menos,
empezará?
Cerrado...cerrado...cerrado... todo cerrado...
Llego, abro los innumerables candados, subo corriendo la improvisada
escalera.
Ahí está, ella, aguardándome.
La descubro, retiro la lona y contemplo sus polvorientas y frías dimensiones.
Le quito el polvo y vuelvo a pasarle la mano.
Con pequeñas palmadas limpio su lomo, su base, sus costados.
Me siento, desesperado, feliz, a su lado, frente a ella,
paso las manos por su teclado, y, rápidamente, todo se pone en marcha.
El ta ta, el tintineo, la música comienza, poco a poco, ya más rápido
ahora, a toda velocidad.
Paredes, árboles, calles,
catedrales, rostros y playas,
celdas, mini celdas,
grandes celdas, noche estrellada, pies
desnudos, pinares, nubes,
centenares, miles,
un millón de cotorras
taburetes y una enredadera.
Todo acude, todo llega, todos vienen.
Los muros se ensanchan, el techo desaparece y, naturalmente, flotas,
flotas, flotas arrancado, arrastrado,
elevado,
llevado, transportado, eternizado,
salvado, en aras, y,
por esa minúscula y constante cadencia,
por esa música,
por ese ta ta incesante. "
Bellotto e Bellini

Que os Titãs são uma das maiores bandas do Pop-Rock brasileiro todos sabem, o que pouca gente sabe é que durante os recessos, ocorridos entre as turnês do grupo, surgiram obras tão grandes ou até maiores que o próprio legado da banda, criadas por seus integrantes individualmente.
Sérgio Britto e Branco Mello fundaram o Kleiderman, banda cult que deu muito o que falar. Marcelo Frommer tornou-se comentarista de futebol e até escreveu o roteiro de uma HQ. Nando Reis iniciou uma carreira solo que deu tão certo que acabaria se tornando sua única carreira com a saída do grupo, mais tarde. Paulo Miklos presenteu o cinema brasileiro com uma atuação genial no filme O Invasor. E por fim, Tony Bellotto arriscou-se em algo que sempre tinha sonhado fazer: tornar-se escritor de livros policiais.
O gênero policial por ser tão peculiar, datado e por ter tido mestres incomparáveis pode ser um terreno perigoso pra qualquer escritor que se aventure por ele. Entre aqueles que se arriscaram, apesar da coragem louvável, poucos conseguiram sucesso.
Bellotto, seguindo a tradição da Literatura Pulp e reverenciando os mestres do gênero policial, seguiu a risca a cartilha, e nesse aspecto as histórias de seu personagem-detetive Bellini não inovam em nada, muito pelo contrário, são uma homenagem rasgada a gênero com todos os clichês que um policial hard-boiled tem direito. A originalidade de sua série, que já conta com três volumes, está na ambientação que tem São Paulo como um personagem onipresente.
Quem conhece bem a cidade vai reencontrar a noite, o submundo e as figurinhas tão comuns da Paulicéia Desvairada, mas vai também descobrir coisas que talvez nunca tivesse notado por trás da correria e do concreto aparente. Coisas como granjas no bairro do Bom Retiro e outros lugares quase irreais.
Dando prosseguimento numa tradição que já contava com nomes como Marcos Rey, Stella Carr e Patrícia Mello, Bellotto apresenta São Paulo em toda sua crueza e verdade, deixando em qualquer paulistano um pouco de orgulho de uma cidade que tem não só monumentos pra apresentar, mas também muita vida e histórias, independente de qualquer juízo de valor.
Àqueles que não conhecem a cidade, deve ficar uma curiosidade intensa de descobrir esse labirinto de ruas e sensações.


Nas três histórias já publicadas, Bellini está sempre presente na figura do detetive particular celebrizada pelo gênero. Leva uma vida de excessos onde as únicas constantes são o blues, o álcool, o sexo e um pragmatismo que chega a incomodar. Cada história mostra também uma abordagem levemente diferente da anterior dando um certo frescor ao gênero.




Bellini e a Esfinge
Quem é Ana Cíntia Lopes? Por que Camila e Dinéia sumiram? O que deseja Fátima? Por que Fabian segue Pompílio? Quem matou o doutor Rafidjian? Qual o segredo de Beatriz? As perguntas acumulam-se na cabeça do detetive Remo Bellini enquanto ele percorre o submundo da cidade de São Paulo em busca de respostas. Aos poucos, os mistérios vão se desvendando de forma surpreendente, até que a decifração do enigma final deixa Bellini perplexo, com um gosto horrível na boca.





Bellini e o Demônio
O detetive paulistano Remo Bellini continua na ativa. Desta vez ele está dividido entre dois casos igualmente intrigantes: localizar um manuscrito perdido de Dashiel Hammett, o grande mestre do romance policial, e desvendar o assassinato da jovem e bela Sílvia Maldini, encontrada com um tiro na testa no banheiro da escola. Sempre ao som de blues, Bellini transita entre São Paulo e Rio, entre ricos sem fama e pobres ilustres, entre algumas conquistas e muitos fracassos amorosos. Nesse caso demoníaco, em que ainda aparecem mais assassinatos, tráfico de drogas e sexo, nada (nem ninguém) é exatamente o que parece.



Belllini e os Espíritos
Um chinês entrega US$ 5 mil ao escritório de investigações do detetive Remo Bellini para que encontre o suposto assassino do advogado Arlindo Galvet, morto em plena corrida de São Silvestre. Desse momento até o final, o foco muda e, ainda que a morte do advogado continue insolúvel, passa-se de encontros e desencontros com a máfia chinesa para um contexto feito de espiritismo, troca de identidade e violência contra a criança.




Além dos três livros, a Saga de Bellini já rendeu um filme com Fabio Assunção no papel principal. Apesar de estar entre o que tem se feito de melhor na produção recente do cinema brasileiro, o filme não chega à altura do livro e altera um ponto nevrálgico da história de uma maneira que desagrada qualquer fã.















Hoje, de tudo que li no jornal, o que mais me chamou a atenção foi a charge do Angeli.
Acho que ela representa muito bem a sensação de desamparo e a falta de esperança que tomou conta de muita gente que eu conheço.

10 agosto 2005

A cor do som
Quando eu era moleque, minha família gastava o tempo livre da mesma forma que 90% das outras famílias paulistanas: nas férias, praia; nos fins de semana, shopping.
Quase todo domingo era passado em Shoppings como Morumbi, Ibirapuera ou Iguatemi; circulando entre os cinemas, o Mc Donalds, a loja de brinquedos Miniatura e a loja de discos Hi-Fi. Quem é que não lembra da Hi-Fi? Eles tinham a embalagem mais bonita pra LPs que eu já vi, e lembro claramente do dia em que eu, um garoto de oito anos, encontrou um disco do Kiss no meio da loja. Fiquei hipnotizado e me recusei a sair da loja até meus pais comprarem o maldito disco.
Alguns anos mais tarde, comecei a notar que esse fenômeno se repetiu algumas vezes e que eu, muitas vezes, comprava de impulso um LP ou CD, sem nem conhecer a banda. O que é que me atrai a tal ponto nesses discos? Só muito mais velho percebi que rolava um lance com a capa do disco, era isso que mexia comigo e me fazia querer descobrir como era o som de uma banda que tinha um disco com uma capa tão legal.
Grande parte da minha formação musical se deu em função da arte das capas. Iron Maiden, Dream Theater, Rush, Yes são alguns grupos que eu provavelmente nunca teria conhecido se seus discos não tivessem as capas que tinham.
Com a transição do LP para o Cd, todo o conceito de capa e encarte teve que ser repensado pelos artistas e novas propostas tão boas ou melhoes que as antigas surgiram.
Hoje, me pergunto se eu não gosto de determinadas músicas só porque me lembram de uma capa?
Veja algumas capas que me conquistaram e seus respectivos autores a quem eu devo parte de minhas descobertas musicais:





Hugh Syme





Peter Saville






Larry Freemantle






Roger Dean






Ken Kelly






Dave McKean






Anastasia Vasilakis







Frank Olinsky







Derek Riggs
Homenagem a
Will Eisner
Se você é daqueles que tem vibrado com todas as edições de obras de Will Eisner que tem pipocado nas livrarias , pela Devir e pela Companhia das Letras, não pode perder as peças Avenida Dropsie e Sketchbook que estão no Teatro do Sesi, idealizadadas pela Sutil Companhia de Teatro.
A primeira é uma montagem que funciona como coletânea de quase todas as obras de Will, com enfase em New York, e a segunda é uma montagem alternativa com alguns quadros diferentes e um pouco menos fiel aos trabalhos do autor. Os pontos altos são a sequência da chuva ( onde foram arranjar tanta água?) e dos quadros provenientes de New York e Contrato com Deus.
O melhor de tudo: de quarta, quinta e domingo é de graça.
Corra, só fica em cartaz até o fim de Agosto.

09 agosto 2005

MuBE
Arq. Paulo Mendes da Rocha














































Fotografar uma obra de Paulo Mendes da Rocha é facílimo, falar de uma obra de Paulo Mendes da Rocha é dificílimo.
Cada ângulo de uma obra sua sugere 10, 20 enquadramentos diferentes, cada superfície carrega uma textura que conta uma história própria. Poucos arquitetos têm uma obra tão fotogênica e cheia de conceitos.
Analisar e teorizar sobre seus edifícios já é uma tarefa para poucos. Numa profissão onde muito é feito às pressas para eventos de duração curta, sua trajetória se destaca com uma coerência incomparável entre conceito e forma. Pode-se classificá-lo de diversas maneiras, menos de efêmero.
Discípulo de Artigas ( arquiteto, professor e militante comunista que acreditava em educar a burguesia ao invés de pegar em armas), Paulo Mendes carrega em cada um de seus traços todas as suas convicções políticas, artísticas, sociais e técnicas. Cada um de seus prédios está completamente enraizado no lugar e na história de onde foi implantado.
Como não sou crítico de arquitetura me limito a fotografar.

Alguns outros projetos: