28 fevereiro 2006

Fotografia / Arquitetura:
Explorando o Norte de Portugal em busca de Souto Moura
O viajante arquiteto intrépido que se aventurar pelos concelhos do norte de Portugal em busca de obras do arquiteto Eduardo Souto de Moura vai obter grande satisfação em perceber o quando seus edifícios estão bem cuidados e na sua sábia inserção na paisagem. Entretanto, vai sofrer muito com a dificuldade de encontrar os prédios e com a ignorância e a truculência dos vigias e seguranças.
Pouquíssimos exemplares da arquitetura de Souto Moura estão nos centros das cidades e um número bem menor deles pode ser fotografado. Ainda assim, aquele que perseverar poderá conseguir fotos bem interessantes.
Analisando conjunto das obras desse arquiteto português que sempre teve um cuidado especial com o sítio e com o detalhe, visualizo três abordagens bem distintas que gosto de classificar como:

Minimalismo Máximo (ou seria mínimo?)
Nesse grupo, eu coloco todas as obras de Moura que primam pela depuração e pela simplicidade. É o tipo de obra em que a arquitetura funde-se com a paisagem e a mão do arquiteto mostra-se na genialidade da solução dos pormenores. Essa categoria engloba obras como a Casa do Moledo, o Metro do Porto, a Faculdade de Geociências, Casa das Artes, Conjunto de Casas com Pátio, a Casa de Nevoglide e Casa na Maia.

Neoplasticismo Exacerbado (quase expressionista)
Aqui, o arquiteto deixa sua sutileza de lado e aumenta a escala de suas soluções plásticas até que essas se tornem mais importantes que o próprio edifício. Nesse tipo de obra, os conceitos de escultura e arquitetura confundem-se. Aqui, temos a Casa do Cinema, as Casas de Ponte de Lima, o Estádio de Braga, o Mercado / Centro Cultura de Braga.

Intervenções em Edifícios Históricos (ou eu não estive aqui)
Se você passar por um desses edifícios sem saber que Souto de Moura trabalhou ali, não vai notar nada. O arquiteto assume o papel do médico que limpa as feridas e restaura o conceito original num uso novo e coerente com o caráter da obra. Pode-se apreciar esse tipo de abordagem na Antiga Cadeia da Relação (atual Centro Português de Fotografia), Edifício da Alfândega (atual Museu dos Transportes e das Comunicações) e na Pousada de Santa Maria do Bouro.



Galeria:

Estação do Metro Casa da Música - Porto



Mercado / Centro Cultural - Braga

























Departamento de Geociências- Aveiro
























Casa das Artes - Porto
















Estadio Municipal - Braga


27 fevereiro 2006

Está tudo ali, mas você não está vendo.Pode estar mesmo a sua frente e você nem vai notar.Não é que você seja cego dos olhos, é cego de outras faculdades. Não cultivou essas capacidades ao longo dos anos e agora é completamente incapaz de perceber o que pra muita gente é o óbvio.Tem momentos em que é só uma suspeita. Você tem a impressão de que viu algo ali, mas quando olha de novo já não tem certeza. A falta de luz não te permite distinguir os contornos, figura e fundo se misturam, e o que parece um objeto pode muito bem ser uma sombra. Enfim, é impossível estar certo que algo realmente existe ali.
Todo texto tem um subtexto, está ali pra qualquer um ler, mas é espantoso que, dia a dia, menos pessoas se interessam por ele. Essa “leitura velada” é quase sempre muito mais interessante que o texto oficial, mas ninguém se importa mais com isso.
Alguns meses atrás, um escritor famoso iria a uma Livraria FNAC de uma grande cidade para uma palestra e uma sessão de autógrafos. Por algum motivo, chegou muito atrasado e seu agente perguntou ao público se era preferível que o autor distribuísse autógrafos ou que conversasse com os fãs, pois devido ao horário do vôo que o autor pegaria a seguir, seria impossível realizar as duas tarefas. Os mais de quinhentos fãs clamaram pelos autógrafos.O escritor então cochichou algo no ouvido de uma mulher que o acompanhava e recostou-se à cadeira para iniciar a sessão de autógrafos.Enquanto os fãs se amontoavam nas filas para se aproximarem do palco, a mulher saiu discretamente pelos fundos e sorrateiramente passou a se movimentar entre as prateleiras e sempre que se via sozinha, enfiava um pequeno papelzinho branco dentro de algum livro. Os poucos presentes que notaram o que acontecia passaram a segui-la e a procurar os estranhos papéis. Tudo isso durou pouco mais que vinte minutos e a mulher logo voltou ao palco, onde cochichou algo no ouvido do autor que sorriu discretamente. Em um dos papéis, escondido dentro de uma edição de Walden, lia-se em inglês: “A palavra é, em si, menos que o pensamento; o pensamento é menos que a experiência.A palavra é um filtro, e o que passa por ela é despojado de sua melhor parte.” Em outro, estrategicamente colocado no prefácio de Visionary Architects, constava: "Stourley Kracklite sofreu do mesmo mal que Augusto e, por não ser fascista, não comia carne."

Voici le pacte qui les unit : La règle du jeu.

19 fevereiro 2006

AUX CHAMPS ELYSEES, PARA-PARA

Demorei para escrever porque as coisas apertaram por aqui. A correria foi grande. Agora, so tenho mais alguns dias de Paris e muitas historias para contar. Como o meu dinheiro acabou e eu nao posso fazer mais nada que seja pago, estou aproveitando para escrever da casa da minha familia francesa. Se tivesse que ficar mais, so cantando no metro para me manter. E quem me conhece sabe que ninguem pagaria para me ouvir cantar. Talvez para eu parar de cantar. Vou inventar um novo servico no metro parisiense. Vai se chamar pague pelo silencio.

De resto, a viagem foi muito boa. Visitei a minha ultima catedral na sexta. Saint Denis, a primeira gotica (puristas, nao levem a serio esse primeira). Aquela onde o brilhante e magalomaniaco abade Suger entendeu que devia unir esforcos com a coroa para fortalecer o poder de ambos. Ele inventou aquela fachada com duas torres e uma rosa que depois foi retomada em todas elas. La estao os tumulos de todos os reis franceses. Como o catolicismo e morbido, os mortos foram divididos em corpo, visceras e coracao. Havia colunas de coracao. Sao colunas em cima das quais ficam urnas com o coracao de cada um dos homenageados. O coracao de Luis XIV, inclusive, esta numa urnazinha que pude ver.

E claro que essa historia de coracao, visceras e corpo nao faz o menor sentido, assim como as reliquias. Nao ha a menor condicao de saber se eram os verdadeiros pedacos da cruz, veu da virgem, osso do braco do santo etc. E nao importa. Era um pouco o boi gordo da epoca.

Falando em fetiche, ontem, depois de descobrir que nao tinha mais um tostao, encontrei um sebo especializado em historia da arte e que esta vendendo dois numeros da revista Macula, que e dificilima de encontrar. Apenas quatro numeros sairam. Eles tinham o 1 e o 2. E, vejam so vcs, a Macula publicou uma maravilhosa troca de cartas entre o Erwin Panofsky (Reca, e o Popovsky) e o Barnett Neuman. Este ultimo deu uma lavada no pobre Panofsky sobre o latim e o seu entendimento de arte. Disse que alguem que considerava que a arte tinha morrido com Durer nao podia ser levado a serio! Quem me conhece sabe que sou fa de carteirinha do Erwin, mas que a carta era legal, isso era. 160 euros...

De resto, ja estou com saudades dai, do pessoal, do meu marido, do sol e de uma casa qualquer onde possa descansar e ler. Tenho 40kg de livros para levar de volta. Edu, terei que comprar uma mala.

E e isso, pessoal. Muitas crepes de Nutella ate a minha volta.

Edu, eu serei excluida do blog depois da minha volta?
Mae, vc continua ai?
Moe, vc esta lendo isso?

12 fevereiro 2006

Esta semana, não perca mais um emocionante episódio de
As aventuras de Tininha em Paris
e o mistério do corcunda templário

09 fevereiro 2006

PARIS e AMENIDADES
- Vcs ja tinham reparado que ha gaivotas em Paris?
- Por que as minhas luvas, por mais novas que sejam, sempre furam na ponta do dedo indicador da mao direita?
- Por que todas as notas de euro tem um aqueduto atras? Eles querem, mais uma vez, se reclamar herdeiros do imperio romano? De novo?!
- Por que em Notre Dame de Paris os mortos que saem dos tumulos no juizo final nao estao pelados? Em todas as outras catedrais, eles estao peladoes.

04 fevereiro 2006

Mamae, comente no blog!
Essa e uma campanha de Anamorfoses.

Por favor, todos vcs numerosos leitores que querem que a mamae comente no blog manifestem-se.

E ja que estou aqui, acabo de voltar de Chartres. Edu, efeitos especiais, por favor.

E uma maravilha. O portal real, de 1150, mais ou menos, sobreviveu a um incendio em 1194. Romanico. As estatuas sao bem finas, com longas trancas e barbas e roupas com muitas dobras retas e rasas. Bastante decorativo e estilizado. Mencao especial para os carneiros da anunciacao aos pastores. Francamente, deixam a Aardman no chinelo.

O portal do transepto norte, da alianca, e o mais bacana. Ele forma um todo: as estatuas se relacionam umas com as outras, de coluna a coluna. O portal central e o mais antigo. As colunas sao cheias de detalhes e a Genese toda e contada nos arcos. Mencao especial para o filosofo com a pedra filosofal e as virgens loucas e as sabias.

O sul tambem e bem bacana. Foi o ultimo a ficar pronto (1260?). As estatuas tem mais balanco, mas as dobras das roupas sao menos marcadas. Mencao especial para os mortos saindo dos seus tumulos, o que e sempre bem divertido.

Como toda catedral, Chartres tem seu maluquinho (ou corcunda, tanto faz). O maluquinho de Chartres decidiu que eu era uma boa vitima. Ele ficava la cantando e saltitando em volta de mim e dizendo coisas idiotas com uma voz misteriosa: o arco da alianca... o arco da alianca... Depois, veio conversar e passou a cantar: rio, rio de la noche... quando me via passar. Eu quase me irritei, mas saimos ambos ilesos da historia.

E por hoje e so.

Galeria de imagens de Chartres aqui. (Edu)