27 fevereiro 2006

Está tudo ali, mas você não está vendo.Pode estar mesmo a sua frente e você nem vai notar.Não é que você seja cego dos olhos, é cego de outras faculdades. Não cultivou essas capacidades ao longo dos anos e agora é completamente incapaz de perceber o que pra muita gente é o óbvio.Tem momentos em que é só uma suspeita. Você tem a impressão de que viu algo ali, mas quando olha de novo já não tem certeza. A falta de luz não te permite distinguir os contornos, figura e fundo se misturam, e o que parece um objeto pode muito bem ser uma sombra. Enfim, é impossível estar certo que algo realmente existe ali.
Todo texto tem um subtexto, está ali pra qualquer um ler, mas é espantoso que, dia a dia, menos pessoas se interessam por ele. Essa “leitura velada” é quase sempre muito mais interessante que o texto oficial, mas ninguém se importa mais com isso.
Alguns meses atrás, um escritor famoso iria a uma Livraria FNAC de uma grande cidade para uma palestra e uma sessão de autógrafos. Por algum motivo, chegou muito atrasado e seu agente perguntou ao público se era preferível que o autor distribuísse autógrafos ou que conversasse com os fãs, pois devido ao horário do vôo que o autor pegaria a seguir, seria impossível realizar as duas tarefas. Os mais de quinhentos fãs clamaram pelos autógrafos.O escritor então cochichou algo no ouvido de uma mulher que o acompanhava e recostou-se à cadeira para iniciar a sessão de autógrafos.Enquanto os fãs se amontoavam nas filas para se aproximarem do palco, a mulher saiu discretamente pelos fundos e sorrateiramente passou a se movimentar entre as prateleiras e sempre que se via sozinha, enfiava um pequeno papelzinho branco dentro de algum livro. Os poucos presentes que notaram o que acontecia passaram a segui-la e a procurar os estranhos papéis. Tudo isso durou pouco mais que vinte minutos e a mulher logo voltou ao palco, onde cochichou algo no ouvido do autor que sorriu discretamente. Em um dos papéis, escondido dentro de uma edição de Walden, lia-se em inglês: “A palavra é, em si, menos que o pensamento; o pensamento é menos que a experiência.A palavra é um filtro, e o que passa por ela é despojado de sua melhor parte.” Em outro, estrategicamente colocado no prefácio de Visionary Architects, constava: "Stourley Kracklite sofreu do mesmo mal que Augusto e, por não ser fascista, não comia carne."

Voici le pacte qui les unit : La règle du jeu.

2 comentários:

Anônimo disse...

De quem é a voz que canta?

Edu Mendes disse...

Da mesma pessoa que distribuiu os papéis.